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RJD - A crise financeira afetou o mercado de publicações?
Bruno Tortorello - A crise foi menor e menos profunda do que a gente imaginava. Houve aumento da taxa de desemprego no primeiro semestre de 2009, mas as vendas voltaram a acelerar rapidamente nos meses seguintes, e terminaremos 2009 com crescimento em vendas e em faturamento de 3 ou 4% em relação ao ano passado.
RJD - Que segmentos mais se destacaram em 2009?
Bruno - A classe C tem sido o grande motor da venda avulsa, impulsionando a venda das revistas semanais populares, que devem fechar este ano com crescimento de 20 a 30%.
RJD - A que se deve esse crescimento?
Bruno - À mobilidade social, que aumentou o poder de consumo das famílias, refletindo no mercado de revistas. No Brasil, cerca de 22 milhões de pessoas passaram da classe D para a classe C, e cerca de 15 milhões migraram da C para a B. Quanto mais aumenta o nível de escolaridade das pessoas, mais elas buscam informação, e a revista é uma das portas de entrada nesse mundo.
RJD - Além das semanais populares, que outros segmentos se destacaram?
Bruno - O segmento de colecionáveis, ainda focado nas classes A e B, continua sendo muito importante. A Abril Coleções entrou no mercado dois anos atrás e já é líder desse segmento, levando muita gente para as bancas. Destaco também as revistas de culinária popular, cujas vendas cresceram de 30 a 40% nos últimos três anos, também impulsionadas pelo aumento do poder de consumo.
RJD - Como o jornaleiro pode aproveitar essas oportunidades?
Bruno - Se está indo muita gente à banca, fidelize esses clientes. No caso dos colecionáveis, incentive-os a completar a coleção toda e ofereça também outras publicações.
RJD - Os jovens estão se afastando das bancas?
Bruno - O que aconteceu com o segmento teen responde isso. Até 2006, achava-se que as meninas não iam mais à banca porque estavam na internet e não queriam saber de revistas. No fundo, o problema é que não existia nada que conversava adequadamente com elas. A partir do momento que as editoras acertaram a mão, esse mercado dobrou de tamanho em dois anos. Isso porque as meninas fazem tudo ao mesmo tempo. Elas gostam de internet, de revista, de TV, e um meio não elimina o outro.
RJD - Qual o papel do jornaleiro para encantar essa geração?
Bruno - Seja cada vez mais vendedor para ganhar espaço na vida das pessoas de todas as gerações. Revistas disputam o tempo do consumidor com um monte de outras coisas, e o jornaleiro precisa oferecer a publicação certa para fazê-lo consumir no PDV. A gente fez uma pesquisa em 2005 que revelou o seguinte: quando o jornaleiro aborda o cliente de maneira adequada, ele dobra a possibilidade de vender. O PDV cuja abordagem é nula tem baixo índice de conversão de vendas.
RJD - O mercado exige novas atitudes?
Bruno - Sim, porque o passado não vai ditar o futuro do jornaleiro. A gente vive um momento de fortes mudanças. Não adianta pensar: Eu sempre vendi 500 reais por mês, então vou continuar vendendo 500 reais. O jornaleiro pode vender muito mais, basta ver as oportunidades batendo na porta. Quem está em regiões mais periféricas precisa aproveitar essa oportunidade, porque o mercado voltado à classe C está crescendo. Tem um movimento forte também dos produtos premium, que chegam a custar 100 reais e vendem muito bem, algo que no passado não se via na banca.
RJD - Como a banca pode se fazer importante na vida das pessoas?
Bruno - O jornaleiro tem que prestar cada vez mais serviços ao consumidor, ser amigo, criar empatia e ser um vendedor atuante. É preciso vender com qualidade, cuidar para que as revistas estejam organizadas e o PDV esteja sempre bonito. A banca tem que ser um local onde o cliente gosta de comprar e onde as pessoas são bem atendidas.
RJD - O que o jornaleiro precisa fazer para começar o ano novo com o pé direito?
Bruno - Esqueça tudo o que não funcionava no passado, porque agora o consumidor está com dinheiro no bolso. O Brasil mudou e vai crescer, e a economia vai dar um grande salto. Os editores investiram bastante em 2009 e vão continuar investindo, além do mais há muitos bons lançamentos programados para 2010, que vão levar muita gente para as bancas. Aproveite todas as oportunidades.
Jornaleiros perguntam ![]() Bruno - As eleições movimentam o segmento de semanais de informação, e certamente teremos mais capas sobre política, embora o tema não gere grandes negócios. Quanto à Copa do Mundo, vamos ter pelo menos quatro projetos, ainda não revelados pelas editoras. Aí, sim, aproveite a oportunidade: se estiver numa região onde tem muita gente que gosta de futebol, crie no PDV um “cantinho da Copa do Mundo”, com publicações sobre o tema. Com certeza você vai gerar movimento na banca e conquistar novos clientes. Maurício Tadeu Carina, Belo Horizonte (MG) - Por que não cortar dos pontos de venda produtos que ocupam espaço desnecessário? Bruno - Os editores e distribuidores têm tentado equacionar essa questão. O número de lançamentos permanece estável e já tivemos uma grande redução do nível de encalhe, e isso faz com que apareça na banca aquilo que mais vende. Geraldo Amaro Rodrigues, Recife (PE) - Em 2009, novas coleções resultaram em significativa participação no nosso faturamento. Quais os planos para 2010? Bruno - O segmento de coleções foi um grande negócio nesse ano e será ainda melhor no ano que vem, devendo crescer 30%. Teremos mais coleções do que em 2009 e editoras internacionais deverão entrar no mercado. Jadir Godoi Campos, Ipatinga (MG) - Com o avanço das publicações na internet e a diversificação de pontos de vendas e assinaturas, o que podemos esperar do futuro? Bruno - O tempo do leitor está cada vez mais curto e o jornaleiro será bem sucedido se oferecer produtos e serviços adequados ao público dele. O jornaleiro bom vai sobreviver nos próximos 150 anos. Estamos em um momento de grande transformação e temos que trabalhar no dia a dia para fazer as melhores revistas, distribuir nos melhores locais e vender, porque o consumidor está lá para comprar. Rubin Edson Roesler, Londrina (PR) - Li na edição 2 110 da revista Veja que o jornal The New ![]() Bruno - Os editores lá fora têm um modelo de negócio diferente do nosso: as revistas são praticamente sustentadas pela publicidade, enquanto no Brasil, nosso modelo é mais equilibrado entre os canais de vendas e a publicidade. No exterior a publicidade foi muito afetada pela crise. Já no Brasil as editoras estão bem estruturadas e fortes, algumas estão crescendo e investindo, e isso é perceptível pelos lançamentos feitos nos últimos anos, como Gloss, Runner’s World, Shape e Receitas da Palmirinha, por exemplo. Adriano Spagnollo, Ribeirão Preto (SP) - A banca São Francisco está na nossa família há mais de 27 anos, e em 2009 crescemos mais de 30% em relação aos anos anteriores. Qual a sua expectativa para as “bancas de lata” em 2010? Bruno - As pessoas gostam de ir à banca e ela tem tudo para ser um grande canal de venda. A concorrência existe na internet e em outros canais, por isso é tão importante o jornaleiro expandir o negócio dele, explorar o entorno, fazer parcerias com empresas, abrir pontos alternativos e criar uma carteira de clientes fieis. Não existe um mercado bom só para um canal de vendas. Se o mercado está bom, é para todo mundo, então é preciso captar essa onda, porque tem gente com dinheiro para comprar revistas. |